quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sobre casas e pensamentos aleatórios

Viver longe de casa. Mas primeiro, é preciso definir o que é casa. Para crianças, é aquele quadrado com um telhado triangular e uma porta e uma janela com cortinas. Para alguns, pode ser simplesmente o lugar em que moramos. Tem uma música que diz que “home is where your heart is”. E eu acho que isso não deixa de ser verdade. Em cada momento, a cada coisa acontecida, nós temos uma casa. E dessa forma, temos muitas casas espalhadas por aí.



A casa de nossos pais, para onde sempre podemos voltar quando algo não está bem.
A casa em que moramos, sozinhos, com amigos, com parceiros, e onde colocamos nossos gostos, nossas peculiaridades, nossas latinhas de chá, nossos amores.
A casa daquele amigo, que está sempre de portas abertas para os momentos em que precisamos chorar ou comer uma pizza.
Aquela conversa no whatsapp com as pessoas que sempre fazem de tudo pra ajudar.
Nem sempre casa é um espaço físico.
Nem sempre casa envolve outras pessoas.
Pode até ser uma playlist no spotify que aquece o coração tanto quando uma caneca de chá de camomila, ou um álbum de fotos que traga boas memórias.
Pode ser um quarto escuro no qual você deita no chão e simplesmente respira.
Pode ser um laboratório, ou uma oficina, onde você sabe que vai sempre encontrar companhia para o que for.

Mas por mais que a gente tenha diversas casas espalhadas, nunca estamos completamente felizes, né? Acho que o descontentamento faz parte do comportamento humano. Para muitos de nós, é impossível ser feliz sem que a gente ache algum motivo de angústia, ou de infelicidade. E eu não julgo por isso, afinal, também sou assim. Sempre estamos longe de alguma casa, e isso sempre aparece quando algo que nos agrada tanto em casa.

Às vezes longe pode ser oito quarteirões sob uma tempestade.
Às vezes longe pode ser oito horas dentro de um ônibus.
Às vezes longe pode ser um outro fuso horário, que dificulta as comunicações.
Às vezes longe pode ser do outro lado do mundo.
Às vezes longe pode ser no andar de cima.
Às vezes longe pode ser muito perto.
Às vezes longe pode ser os muitos mil pés que separam os astronautas em órbita da civilização.
Pode ser um telefone sem bateria, ou um computador sem internet.


E a cada escolha que fazemos, precisamos abdicar de alguma dessas casas. Ou de várias. Para enfim criarmos novas, ou retomarmos as antigas. É complicado ponderar as vantagens e as desvantagens de cada escolha, mas ainda assim é necessário fazê-las. Sair de casa. Sair da zona de conforto. Nem que seja para voltar depois. Nem que seja para engolir o choro noites seguidas, mas acordar, olhar pela janela e ver, além do sol de um lugar diferente, a esperança renascendo e o ânimo voltando. Porque o arrependimento de ter feito algo é sempre menor que o de não ter tido coragem.


domingo, 28 de agosto de 2016

Sobre as pequenas coisas que deixam a vida mais gostosa



Eu sempre gostei das coisas com toques especiais. Algo que tornasse cada coisinha única.

Podia ser um pouco de gengibre no bolo de chocolate.
Podia ser o toque de amarelo no desenho todo azul.
Podia ser uma florzinha roxa na calçada toda de cimento.
Podia ser um acorde de baixo no meio da música.
Podia ser uma ilustração colorida no final de um livro.

E eu nunca conseguia distinguir o que eram essas coisas a mais. Eu apenas sabia que algo estava diferente, mas a minha sensibilidade não me permitia entender a origem de tal diferença. Aos poucos eu fui aprendendo a identificar esses detalhes, seja porque alguém (minha mãe) me explicava, seja porque fui ganhando as manhas de perceber como eram as coisas com ou sem aquilo.

E aos poucos eu fui acrescentando esses detalhes no meu cotidiano. Experimentando, gostando, não gostando, mudando, aceitando sugestões, tentando coisas novas que eu via por aí. Percebendo que essas coisinhas, por menores que fossem, tinham uma capacidade incrível de mudar muitas coisas. Trazer um impacto feliz no resto do dia.

Como por exemplo colocar oréganos, e alecrins e manjericões no macarrão ao alho e óleo.
Ou colocar uma música animada enquanto eu lavo a louça.
Ou então parar pra olhar as estrelas, e descobrir que existe um aglomerado chamado “Aglomerado da Borboleta”, que realmente parece uma borboleta.
Ou conseguir perceber as diferentes cores na Caixinha de Joias.
Ou acordar com raios tímidos de sol entrando pela janela, ao invés de com um despertador estridente tocando.
Ou por exemplo no dia em que eu estava super feliz assistindo um episódio de Castle e eu descubro que noz-moscada pode deixar o café incrivelmente único e gostoso.

E desde então são os detalhes que me movem. Que nos tiram do piloto automático do cotidiano. Ainda não consigo perceber todos. Aliás, consigo perceber apenas uma pequininíssima minoria deles, mas já é o suficiente para trazer um sabor a mais no dia a dia. As outras sutilezas também estão por aí, mas nem sempre percebidas. E o que importa é que elas estão lá, sempre ajudando a manter esse movimento quase perpétuo que a vida necessita <3


segunda-feira, 25 de julho de 2016

Sobre bolos de chocolate, amor e framboesas

Amor é o que nos move. Seja ele amor a um curso, uma atividade, uma bebida, uma pessoa.

Amor próprio talvez seja o mais importante, e ao mesmo tempo, um dos mais difíceis. É muito mais simples amar algo, ou depositar a responsabilidade de nossa felicidade em outras pessoas, do que aceitar que ela depende quase que única e exclusivamente de nós mesmos.

Pode ser também amor a uma atividade. Tocar violão, fazer tricô, viajar. Essas pequenas coisas que trazem inspiração e felicidade.

Pode ser amor às comédias românticas, que trazem a leveza suficiente para continuar seguindo o meu caminho.

Pode ser amor a uma banda, ou uma música, que ajuda a compor a trilha sonora vida, e com isso, ajuda a entender o que está acontecendo.

Pode ser amor aos amigos, à família, aos amores do meio do caminho. Às pessoas que passam por nossas vidas e deixam bem mais que uma marquinha. Às pessoas que passam e deixam um pedaço de si, levando um pedaço de nós.

Os amores não resolvidos também me movem. Talvez mais que os resolvidos, na verdade. Eu tenho uma inquietação com coisas não acabadas, com histórias sem um ponto final. Amores não resolvidos mantém aquela chama de esperança de uma continuação, embora ela obviamente não vá acontecer. Tem um bolo de chocolate na casa da sua amiga, você vai e come um pedaço. Então você precisa sair para apresentar um trabalho. Quando termina de apresentar, tudo o que você quer é voltar pra casa pra comer mais um pedaço do bolo. Mas veja bem, o bolo pode ou não ter acabado enquanto você estava fora. E o bolo nem é seu! Como saber? Então. Exatamente isso que são os amores não resolvidos. Um bolo de chocolate sensacional que pode ou não ter acabado e que não é seu. E que justamente por isso, faz com que você queira voltar correndo para resolver essa dúvida.

Porque sim, amores acabam. Do mesmo jeito que eles chegam de fininho, eles também vão embora. A minha incrível experiência de... Não, calma. Em partes a minha não-muito-vasta experiência, em partes a observação de experiências não minhas, me fizeram chegar a essa conclusão. Quantas coisas já não gostamos tanto, para então deixar de gostar, se não começar a odiar? Quantas pessoas já não dissemos que amávamos, mas depois a única coisa que ficou foi a indiferença?

Acontece.

É natural.

Faz parte.

Acaba, simples assim. E a única coisa que fica é o aprendizado. E o espaço aberto para novos amores, que surgem das mais inesperadas maneiras.

Ou pode ser o amor às amoras. O amor que me fazia pegar uma xícara bonitinha, andar até o meio do mato e colher as amoras mais pretinhas do pé. Por todos os dias, durante toda a temporada de amoras na casa dos meus avós. E voltar para casa com um punhadinho de amoras, que geralmente se resumia a uns sete ou oito frutinhos e a boca (e as roupas, e a alma) toda pintada de roxo.

Sério. Como não amar as amoras? Essas amoras que são tão amorzinho que tem amor até no nome?


As framboesas que me desculpem.

sábado, 9 de julho de 2016

Sobre o semestre e o final dele



Finalmente acabou. Um semestre de seis meses e sete dias. De sete aprovações, duas recs e uma reprovação. Um semestre de muita saudade e muitos aprendizados. De muitos amores e muitas chateações. De muita loucura e muitos trabalhos. De Júpiter, Io, Ganímedes, e também de Saturno, Marte e da Caixinha de Jóias. De brigadeiros enrolados, sucos testados e muita batata frita. De um começo de blog. De tentativas de ser saudável e comer saudável e dormir saudável e viver saudável. E de muitas falhas.

Ainda não consegui parar pra pensar se o saldo do semestre foi positivo ou negativo.
Por um lado ele foi um porre.
Por outro, não teve ressaca.

Sobre a graduação, posso dizer que sou 30% engenheira. Mas se me sinto 30% engenheira? Não, nem ao menos 15. Sinto que eu sou simplesmente uma pessoa que aprendeu (ou não) a resolver cálculos diferenciais. Ou que aprendeu a resolver problemas de cinemática, ou que aprendeu a identificar classes de metal duro. Ou que não aprendeu a programar.

Não que aprendeu a ser engenheira, pensar como engenheira, ver o mundo como engenheira. Depois desses três semestres, felizmente não tão complicados quanto esse último, posso apenas talvez dizer que me sinto 15% mais pessoa. Três semestres mudaram imensamente a minha forma de ver as coisas, ou de agir frente às adversidades.

Já tive a pretensão de me considerar alguns porcento engenheira só por ter completado uma certa parte do curso, mas não estou mais assim. Talvez foi a mesma mudança que levou Drummond a trocar seu discurso de "Mundo mundo vasto mundo,/Mais vasto é meu coração" para "tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo", vai saber.

Esse semestre me ensinou que inércia só é legal quando em um problema de física. Seguir fazendo as coisas, ou vivendo a vida, ou qualquer coisa assim por inércia é uma péssima ideia. É bom entender os por ques, ou simplesmente entender o sentido de fazer alguma coisa. Seja ela a sua graduação, comer salada ou me relacionar com pessoas.

Aprendi que as palavras são essenciais para mim, por mais que eu faça algo tão exato quanto engenharia. Mas ao mesmo tempo, nem tudo pode ou precisa ser definido em palavras. Às vezes, é muito melhor simplesmente viver o momento, sem preocupações fúteis com rótulos. 


Nesse semestre, tive muitas experiências novas.
Conheci a felicidade de passar com um cinco bola que na verdade era um quatro ponto nove.
Descobri o que é parar de me reconhecer. Não só no espelho, mas nas minhas atitudes.
Descobri o que é deixar um estado mental tomar conta de você, mesmo que você não queira.
Descobrir o que é chorar simplesmente com os acordes de uma música.
Descobri o que é ter mil coisas para fazer, provas, trabalhos, roupa pra lavar, e ainda assim não achar um motivo para sair da cama.
Descobri o que é parar de comer e ainda assim engordar.
Descobri que ficar longe de casa pode ser mais difícil do que parece.
Descobri como é estudar por dias para uma prova e ainda assim não conseguir resolver uma única questão.
Mas também descobri que eu tenho os melhores amigos do mundo.
Descobri que é possível ter a alma tomada por um sentimento de paz simplesmente ao olhar através de um jogo de lentes e ver aquela coisinha que chamamos de Júpiter.
Descobri que tem umas árvores na USP que dão flores roxas e brancas ao mesmo tempo.
Descobri um jeito de não carbonizar o açúcar quando faço chá de gengibre.
Descobri que a gente não precisa estar sempre forte e inteira, é ok precisar de ajuda.
Descobri que dar “Bom dia” para as pessoas que cruzam o meu caminho é uma boa maneira de fazer o meu dia bom.
Descobri que ser tempestade é bom, mas ser calma como o nascer do sol também.

Foi um semestre diferente dos outros. Passei por muitas coisas e espero ter crescido com todas elas também. Ou pelo menos com parte delas. O semestre acabou, e algumas coisas, infelizmente, ficam por aqui. Outras, felizmente, não foram embora ainda. Mas agora vem o próximo semestre, junto com esperanças e amores. E o que vier já vai ser uma experiência e tanto.

PS: Esse texto não ficou tão bom quanto eu gostaria. Na verdade, existe um texto que resume basicamente a minha relação com esse semestre que acabou, mas ele não é meu. Optei por escrever sobre isso mesmo assim, sabendo que não ia ficar tão exatamente igual aos meus sentimentos. Mas segue abaixo link para esse texto ~não meu, mas que poderia totalmente ser~.