Viver longe
de casa. Mas primeiro, é preciso definir o que é casa. Para crianças, é aquele
quadrado com um telhado triangular e uma porta e uma janela com cortinas. Para
alguns, pode ser simplesmente o lugar em que moramos. Tem uma música que diz
que “home is where your heart is”. E eu acho que isso não deixa de ser verdade.
Em cada momento, a cada coisa acontecida, nós temos uma casa. E dessa forma,
temos muitas casas espalhadas por aí.
A casa de
nossos pais, para onde sempre podemos voltar quando algo não está bem.
A casa em
que moramos, sozinhos, com amigos, com parceiros, e onde colocamos nossos
gostos, nossas peculiaridades, nossas latinhas de chá, nossos amores.
A casa
daquele amigo, que está sempre de portas abertas para os momentos em que
precisamos chorar ou comer uma pizza.
Aquela
conversa no whatsapp com as pessoas que sempre fazem de tudo pra ajudar.
Nem sempre
casa é um espaço físico.
Nem sempre
casa envolve outras pessoas.
Pode até ser
uma playlist no spotify que aquece o coração tanto quando uma caneca de chá de
camomila, ou um álbum de fotos que traga boas memórias.
Pode ser um
quarto escuro no qual você deita no chão e simplesmente respira.
Pode ser um
laboratório, ou uma oficina, onde você sabe que vai sempre encontrar companhia
para o que for.
Mas por mais
que a gente tenha diversas casas espalhadas, nunca estamos completamente
felizes, né? Acho que o descontentamento faz parte do comportamento humano.
Para muitos de nós, é impossível ser feliz sem que a gente ache algum motivo de
angústia, ou de infelicidade. E eu não julgo por isso, afinal, também sou
assim. Sempre estamos longe de alguma casa, e isso sempre aparece quando algo
que nos agrada tanto em casa.
Às vezes
longe pode ser oito quarteirões sob uma tempestade.
Às vezes
longe pode ser oito horas dentro de um ônibus.
Às vezes
longe pode ser um outro fuso horário, que dificulta as comunicações.
Às vezes
longe pode ser do outro lado do mundo.
Às vezes
longe pode ser no andar de cima.
Às vezes
longe pode ser muito perto.
Às vezes
longe pode ser os muitos mil pés que separam os astronautas em órbita da
civilização.
Pode ser um
telefone sem bateria, ou um computador sem internet.
E a cada
escolha que fazemos, precisamos abdicar de alguma dessas casas. Ou de várias. Para
enfim criarmos novas, ou retomarmos as antigas. É complicado ponderar as
vantagens e as desvantagens de cada escolha, mas ainda assim é necessário
fazê-las. Sair de casa. Sair da zona de conforto. Nem que seja para voltar
depois. Nem que seja para engolir o choro noites seguidas, mas acordar, olhar
pela janela e ver, além do sol de um lugar diferente, a esperança renascendo e
o ânimo voltando. Porque o arrependimento de ter feito algo é sempre menor que
o de não ter tido coragem.